25 de nov. de 2008

Brasil começa a assumir sua COR!

No domingo, pós-Consciência Negra, um clima de agitação tomou a casa Trópis: eram muitos olhos e algumas folhas de jornal. A compra da Folha de São Paulo de domingo não foi por acaso.
Anexo aqui um texto escrito por Ralf Rickli sobre o conteúdo fantástico da pesquisa IBGE/Data Folha a respeito da visível dimiuição do preconceito entre brasileiros, partindo do aumento no número de pessoas que assumem sua cor: negros e pardos.
P.S.: um pouco mais sobre o Dia da Consciência negra:

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BRASIL COMEÇA A ASSUMIR SUA COR
e sua participação na História!




I. Acordo, pego um café e leio no UOL: "A proporção dos entrevistados que se autodeclaram brancos caiu de 50% para 37%, enquanto a dos que se dizem pardos aumentou de 29% para 36%."
 
É bom lembrar que, além de afrodescendentes mestiços, a categoria "pardo" acolhe também a maior parte dos índios e seus descendentes (mestiços e índios que não sabem que são).
 
Os dados são de pesquisa da Folha (instituto Datafolha) contraponteada com outra do IBGE - e mesmo sem querer fazer merchandising não posso deixar de sugerir que se compre a Folha deste domingo (23/11), pois o caderno especial contém mais material relevante de acesso exclusivo de assinantes uol/Folha do que é prático ficar salvando e compartilhando pela net.
 
Só mais um aperitivo:  "Há 13 anos, quando o Datafolha fez a sua primeira grande pesquisa sobre o tema, metade dos entrevistados se definiram como brancos. Hoje, são 37%, percentual próximo ao dos autodeclarados pardos (36%). Os que se classificam como pretos representam 14% da população com 16 anos ou mais."
 
Quer dizer: autodeclarados brancos: 37%; autodeclarados pardos + pretos: 50%.
 
E ainda: "Para o sociólogo José Luiz Petrucelli, do IBGE, contribuiu para esse aumento o que ele chama de processo de revalorização identitária. 'O que antes não entrava nos padrões de beleza ou prestígio e era desvalorizado hoje mudou para se constituir em referência, até para poder usufruir de vantagens relativas', diz, referindo-se, por exemplo, a ações afirmativas que passaram a dar benefícios a pretos e pardos no acesso ao ensino superior."
 
II. Processo de revalorização identitária de 1995 para cá... Modéstia à parte, acho que também dei minhas pingadinhas de água com as asas, no incêndio que havia a apagar: quando comecei a trabalhar com educação dentro da população periférica, em 1993, senti que esse era o primeiro problema a ser atacado no Brasil - pois de quem está mal com sua própria identidade não tem como sair nenhuma revolução.
 
Justo de 1993 a 1998 esse foi o principal tema da minha atividade pública pessoal (quero dizer: além dos trabalhos de mera sobrevivência): vivia falando aqui e ali sobre a grandeza da história africana, e em 1994 (por uma sugestão da Ute Craemer!) escrevi O Dia em que Túlio descobriu a África. "O Túlio" só foi publicado em 1997, e ainda assim só 300 exemplares - mas tenho a satisfação de ter vários relatos de gente que parece ter encontrado seu eixo depois de ler o livro.
 
Claro que não estou dizendo que fui eu que fiz  :-D ...  Ao contrário: foi uma onda, um movimento histórico no verdadeiro sentido da expressão (que ultrapassa de longe os movimentos conscientemente organizados), que usou milhões de pessoas que se puseram à disposição para isso.
 
O que estou querendo apontar é a relevância de a gente buscar desenvolver o FARO PARA AS QUESTÕES QUE TERÃO IMPORTÂNCIA HISTÓRICA EM DETERMINADO PERÍODO - faro esse aplicado diretamente na realidade circundante, e não dentro dos livros - no mínimo porque quem só olha dentro dos livros tende a ficar míope, e quem fareja dentro deles corre o risco de ficar asmático (com falta de fôlego vital) devido ao inevitável mofo que o tempo ajunta a todos eles, sem exceção...
 
Com abraços calorosamente pretos & pardos,
 
Zé Ralf - trisneto da escrava Floriana Rosa do Espírito Santo
(e infelizmente sem pista de nome dos antepassados indígenas)






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